O Córrego das Corujas
A cidade de São Paulo nasceu em meio a um paraíso de mata atlântica e rios. Centenas de córregos aqui existiam e esses alimentavam com água cristalina os rios Pinheiros e Tiête. Hoje em dia a história é outra. Nossos rios foram enterrados, poluidos e esquecidos.
Com o apoio da Stratos Geologia, a Associação de Amigos do Córrego das Corujas realizou a caracterização e diagnostico da da Bacia do Córrego das Corujas. Confira:
Córrego das Corujas
Caracterização e Diagnóstico Ambiental
27 de setembro de 2015
1.Introdução e Objetivo
O córrego das corujas é um pequeno corpo d’agua que nasce em vale sinuoso próximo ao alto estrutural conhecido como espigão da Paulista a partir das rochas sedimentares da formação São Paulo. Sua nascente original estava localizada próximo ao topo da Rua Dom Rosalvo.
O objetivo do seguinte trabalho é caracterizar as fontes de contaminação e propor soluções definitivas para melhorar a qualidade da água ao longo do seu percurso. Essa tarefa é facilitada no local devido ao córrego apresentar bacia de pequena dimensão, em área com rede de esgoto instalada e com facilidade de acesso ao córrego.
2.Caracterização Física
Área da Bacia: 2,5km2
Extensão do Curso d’água: 2.365m
Trecho exposto: 420m
Trecho enterrado: 1.945m
Figura 1 – Imagem de satélite (Google Earth 2015) em perspectiva e com exagero vertical de 3x com a área total da bacia do córrego das corujas e o percurso do rio(azul).
2.1 Curso do Rio Atual
Atualmente o córrego encontra-se totalmente canalizado com apenas 21% do seu curso exposto, sendo o restante enterrado nas galerias de águas pluviais. No seu percurso inicial a água é cristalina e inodora, tornando-se escura e mal cheirosa ao longo de seu percurso até desaguar no Rio Pinheiros.
Sua nascente original foi provavelmente perdida devido a construção de ao menos três edifícios que tem suas garagens abaixo do nível freático e portanto a realização bombeamento da água através de poços de rebaixamento e drenos. Assim com o nível freático artificialmente alterado pode se considerar como nascente a garagem do Edifício Do Rosalvo, localizado na rua Dom Rosalvo, 140.
Foto 1 – Água proveniente de rebaixamento do lençol freático correndo em direção a galeria de águas pluviais na rua Dom Rosalvo.
Foto 2 e 3 – (A) Tubulão de concreto onde o córrego fica exposto pela primeira vez ao longo do seu percurso. (B) Trecho exposto ao longo da Praça das Corujas com talude rompido.
Foto 4 e 5 – (A) Galeria de águas pluviais lançando água contaminada por esgoto na altura da Rua Francisco Isoldi. (B) Ponte na esquina da Rua Juranda e Avenida das Corujas.
Fotos 6 e 7 – (A) Parque Linear da Coruja com galeria de águas pluviais lançando água contaminada com esgoto no córrego. (B) Final do trecho com o córrego exposto.
Foto 8 e 9 – (A) Rua Romeu Perroti onde o córrego segue enterrado na galeria de águas pluviais. (B) Acesso principal do Sacolão São Jorge com grelhas de acesso ao córrego tampadas.
Foto 10 e 11 – (A) Última chaminé de inspeção antes do encontro com o Rio Pinheiros no canteiro central da Marginal. (B) Encontro do córrego das corujas já bem poluído com o Rio Pinheiros.
3.Interferências
3.1 Captação de água Subterrânea e Rebaixamento do Lençol Freático
Existem dezenas de captações de água subterrânea ao longo da bacia do Córrego das Corujas, sendo a maioria delas em condomínios e postos de gasolina. Também existem outras dezenas de poços de rebaixamento de lençol freático em condomínios da região.
Tais interferências podem impactar significativamente na vazão do córrego e agravar ainda mais a poluição já existente no local, sendo que uma vez que as fontes de contaminação de esgoto urbano estejam interligadas na rede de esgoto da SABESP o córrego pode praticamente secar.
3.2 Áreas declaradas contaminadas
Segundo cadastro das áreas contaminadas e reabilitadas do estado de São Paulo de 2013 da CETESB existem 5 áreas contaminadas inseridas na bacia do córrego das Corujas. Quatro delas correspondem a postos de gasolina onde a contaminação ocorreu através de vazamento de reservatórios enterrados de combustível. E uma área contaminada com metais pesados referente a antigo incinerador onde hoje é a Praça Victor Civitá.
Figura 2 – Imagem de satélite com o curso do córrego e as áreas contaminadas inseridas na bacia do Córrego das Corujas.
3.3Contaminações por esgoto
As contaminações por esgoto doméstico são o principal contaminante do córrego e aparentemente são pontuais já que existe rede de esgoto consolidada na região. Alguns imóveis apresentação ligações irregulares de esgoto, lançando os mesmos nas galerias de águas pluviais que chegam ao córrego.
A identificação destes imóveis é a solicitação junto a SABESP da ligação dos mesmos a rede de esgoto é o principal objetivo deste trabalho e o método mais fácil de descontaminação permanente do córrego.
4.Qualidade da água
No dia 27 de setembro de 2015 foi realizada coleta de quatro amostra de água ao longo do córrego das corujas. As amostras foram analisadas visual e olfativamente em uma escala de 0 a 10 e os resultados são apresentados a seguir.
Figura 03 – Distribuição das amostras ao longo do percurso do córrego
Foto 12 – Aspecto visual das quatro amostras coletadas (direita/montante e esquerda/jusante)
5.Acervo Histórico
Foi realizado levantamento nas bases de dados do Instituto Geografico e Cartografico (IGC) do DAEE e do Arquivo Público do Estado de São Paulo onde diversos mapas e registros fotográficos registram as mudanças ocorridas no rio ao longo da história da cidade de São Paulo.
Foto 13 e 14 – Foto aérea de 1972 da antiga estação de tratamento de esgoto de pinheiros (hoje EEE Pinheiros) com a Avenida Frederico Hermann Jr. ao fundo com o córrego das Corujas ainda exposto.
Foto 15 e 16 – Registros fotográficos de 1973 da construção da galeria subterrânea de águas pluviais na Av. Frederico Hermann Jr.
Foto 17 e 18 - Registros fotográficos de 1973 da construção da galeria subterrânea de águas pluviais na Av. Frederico Hermann Jr e construção da estrutura de desague do Córrego das Corujas no Rio Pinheiros.
Figura 4 – Mapas das mudanças do curso do Rio ao longo da ocupação do bairro de Pinheiros são (Planta da cidade de São Paulo de 1907 e Projeto SARA 1930 respectivamente).
Figura 5 – Imagem de satélite (Google Earth) com sobreposição do trajeto atual do córrego das Corujas e do Rio Pinheiros (em azul) com o trajeto original (em rosa).
6.Captação e Tratamento de esgoto atual
Toda a região da bacia apresenta rede de esgoto instalada, não existindo favelas ou lançamentos industriais de efluentes. Todo o esgoto da bacia é coletado e enviado para a Estação Elevatória de Pinheiros onde segue através do Interceptor IP6 até a Estação de tratamento de esgoto de Barueri.
7.Discussões e Próximas Etapas
7.1 Diagnóstico Ambiental
O córrego das Corujas encontra-se atualmente em situação muito melhor que a maioria dos afluentes do Rio Pinheiros, porém ainda apresenta diversos pontos onde o esgoto é lançado direta e indiretamente no córrego.
A parte superior do córrego até o parque linear apresenta água de bom aspecto e praticamente inodora apesar de claramente contaminada. Após esse trecho o córrego é enterrado e recebe grande carga de contaminação chegando ao Rio Pinheiros com coloração e aroma acentuados.
7.2 Mapeamento das Contaminações
Sugerimos em uma próxima etapa a realização da coleta de amostras nas galerias subterrâneas do Parque Linear até o Rio Pinheiros e detalhamento dos contribuintes do córrego das Corujas. Em conjunto a realização de um mapeamento dos imóveis prováveis de lançamento de esgoto na galeria de águas pluviais através de análise olfativa das bocas de lobo ao longo da bacia.
7.3 Possíveis Intervenções Urbanas
Após a passagem pelo Sacolão São Jorge o córrego entra no condomínio Recanto dos Bandeirantes onde o córrego passa enterrado nas galerias de águas pluviais por 170 metros em local que atualmente é utilizado como estacionamento de visitantes. Nesse local poderia ser construído mais um parque linear com área de 6000m2.
Outra possível intervenção urbana são a criação de pontos de acesso ao rio no parque linear e na praça das Corujás (praias) com instalação de placas informativas sobre o trajeto e história do córrego.
Para participar curta a pagina da Assossiação dos Amigos do Córrego das Corujas no facebook
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